O Presidente da República deixou hoje,
segunda-feira, 04, Luanda a caminho da Guiné Equatorial onde vai participar
numa cimeira extraordinária da Comunidade Económica de Estados da África
Central (CEEAC), cuja sede se situa no Gabão, sobre a crise no Gabão gerada
pelo golpe miliar que afastou Ali Bongo do poder.
Esta participação de João
Lourenço nesta Cimeira sucede dias após outra deslocação a Brazzaville, onde
debateu o mesmo assunto com o seu homólogo Denis Sessou Nguesso.
O Chefe de Estado angomano
manifestou a sua preocupação com este golpe dando-o como exemplo para a
necessidade dos serviços de segurança externa angolanos estarem "de olhos
bem abertos".
Este golpe, que teve lugar na
quarta-feira da semana passada, gerou forte preocupação entre os países
vizinhos e representa o risco da descida da instabilidade golpista da África
Ocidental para a África Central, onde vários países atravessam crises sociais e
económicas graves e têm a liderá-los Presidentes de idade avançada e há décadas
nos cargos, resistindo a fortes suspeitas de fraudes eleitorais para manutenção
do poder.
O poder foi assumido pelo líder
da junta militar que deu o golpe a Bongo, o general Oligui Nguema, até então o
seu chefe da guarda presidencial.
O deposto Presidente, que tinha
acabado de ser reeleito nas eleições de 26 de Agosto para um terceiro mandato,
e às quais apenas concorreu depois de manipular a Constituição, que admitia
apenas dois mandatos, pediu em comunicação divulgada em Libreville que o povo
se levante contra o golpe de Estado militar.
"Façam barulho nas
ruas", apelou, sem sucesso, Ali Bongo Ondimba, de 64 anos, 14 de poder, e,
ahora, o último de uma dinastia de governantes do Gabão que começou em 1967 com
o seu pai, Omar Bongo, e se preparava agora para repassar ao seu filho mais
velho, Noureddin Bongo Valentin, que foi detido e está a ser acusado de traição
e corrupção pelo novo poder. (ver links em baixo nesta página).
Um golpe esperado e anunciado
Este golpe, que ainda carece de
confirmação para o seu sucesso, o que poderá acontecer com o passar dos dias,
não sendo totalmente fora das possibilidades uma resposta de facções leais a
Bongo nas Forças Armadas, não é totalmente inesperado, como o demonstram as
tentativas no passado, sendo a mais relevante a de Janeiro de 2019, que foi
abortada inextremis.
A tentativa de golpe militar em
Libreville em Janeiro de 2019 foi abortada pelo grosso das forças armadas do
Gabão depois de um jovem tenente, de nome Kelly Obiang, um dos comandantes da
Guarda Republicana, ter dado a cara pela intentona ao ler um comunicado com os
justificativos para a acção.
Horas depois do golpe - realizado
quando o Presidente da República, Ali Bongo se encontrava em Marrocos em tratamento
médico -, um porta-voz do Governo, Guy-Bertrand Mapangou, vei dizer aos jornalistas
que o golpe tinha falhado.
"O Governo está no activo e
as instituições do país estão a funcionar normalmente", disse este
porta-voz na altura-
O golpe terá falhado porque as
chefias superiores das Forças Armadas não alinharam no plano dos militares de
patentes inferiores, contra aquilo que chamam o "desgoverno" do
Presidente Bongo, o que agora não sucede porque este golpe foi liderado por
generais, incluindo o novo líder do país, o até aqui comandante da guarda
presidencial, general Brice Oligui Nguema.
O autodenominado Movimento
Patriótico das Forças de Defesa e Segurança do Gabão, pelo qual o tenente Kelly
Obiang, quando leu o seu manifesto, ladeado por outros dois militares, armados
e vestidos com camuflados, deu a cara, alegou, como razão para o
"golpe", a falta de condições de Ali Bongo para governar o país,
devido ao seu estado de saúde física e mental.
O Presidente gabonês foi
transferido para o exterior depois de ter sofrido um ataque cardíaco em Outubro
de 2018.
De recordar que a intentona de
2019 falhou porque as chefias superiores do Exército não alinharam e também
porque um contingente militar norte-americano foi enviado para este país,
alegadamente por causa da sua localização estratégica face ao, na altura, tenso
processo eleitoral na República Democrática do Congo (RDC).
Já na ocasião, como o Novo Jornal
noticiou, a pouca simpatia que Ali Bongo conta ( contava) entre o povo é uma
das razões pelas quais alguns analistas admitiam que este caso poderia estar,
nesse período, mitigado, mas dificilmente serão evitadas outras tentativas para
depor o Presidente e, com isso, eleger um novo Governo que permita uma melhor
distribuição das riquezas oriundas do sector petrolífero.
O que se veio agora a
concretizar.