O país do reajuste

 


A caminhar para 50 anos de independência, Angola vive sob o peso de promessas adiadas e dignidade suspensa.

Viramos o país do reajuste?

A expressão pode parecer técnica, mas tornou-se o retrato simbólico de Angola: um país onde se reajustam constantemente os preços, as promessas, as esperanças — mas onde o progresso real continua a escapar, como se fosse um luxo inalcançável.

Estamos a caminho dos 50 anos de independência, mas carregamos nas costas os mesmos problemas estruturais de décadas passadas: falta de água potável, de saneamento básico, de medicamentos, de segurança alimentar. Problemas que se tornaram herança — e, infelizmente, rotina.

Como é possível? 

Como é possível um país com tantos rios sofrer com a escassez de água potável?
Como há tanta fome numa terra tão fértil?

Estas contradições expõem não a falta de recursos, mas a má gestão. E pior: mostram como a população começa a aceitar esse estado de “reajuste” eterno como algo normal.

É isto o sonho dos nossos antepassados?

Certamente, não.

Eles sonharam com liberdade plena, com dignidade, prosperidade, autodeterminação. A independência não era para ser apenas a troca de quem governa, mas a construção de uma pátria para todos. Hoje, muitos sentem que esse sonho foi traído — por interesses pessoais, ganância e ciclos de poder que não colocam o bem comum em primeiro lugar.

Temos rumo? Ou estamos à deriva?

Angola tem recursos. Tem história. Tem gente capaz.
Mas não basta ter rumo no papel, em discursos ou em estratégias arquivadas.

O povo precisa ver esse rumo:

– no prato de comida,
– na água que corre da torneira,
– na vacina que chega ao posto,
– no emprego que sustenta a família,
– na escola que forma um cidadão.

O país do reajuste?

Talvez seja isso que nos tornámos:

– Reajuste no combustível.
– Reajuste no pão.
– Reajuste no custo de vida.
– Reajuste nos sonhos.

Reajustar não basta

É preciso reconstruir.
Reimaginar Angola.
E, sobretudo, agir com responsabilidade histórica.

O povo angolano não merece viver num estado permanente de adaptação à dor.
Merece viver com dignidade, justiça e progresso.

Por: Maria Sila Chipa - Jornalista

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