O preço do saco de 50 quilogramas
de cimento subiu consideravelmente nas últimas semanas no mercado informal,
passando, pela primeira vez, desde o início da crise económica em Angola, de
3.400 kwanzas para 5.500, constatou o Novo Jornal após uma ronda pelos mercados
informais.
Há também a denúncia de que a
produção do cimento para os próximos seis meses, nas cimenteiras do País, já
está comparada.
Os revendedores dizem que houve
um aumento de preço deste produto nas cimenteiras, daí a justificação da subida
galopante do saco nos mercados.
Ao Novo Jornal contaram que os
preços actuais do saco de cimento está a afugentar e reduzir consideravelmente
o número de clientes nos mercados.
Alguns revendedores contaram que
o negócio já não está a ser rentável, atendendo aos custos que têm com os
transportes e os arrendamentos dos armazéns para a conservação do produto.
O saco de cimento de 50
quilogramas mais caro no mercado paralelo é o 42,5 (referência) da Cimangola,
que custa 5.500 kz.
Segundo revendedores e clientes,
este preço era até aos meses de Junho/Julho impensável, visto que o preço
variava entre os 3.300 a os 3.800 kwanzas.
No mês passado, contam, o saco
disparou para preços entre os 4.100 e os 4.650 kwanzas, e agora está a custar
entre 4.900 e 5.500 kz, facto constatado pelo Novo Jornal, esta manhã, em diversos
pontos de venda de Luanda.
No mercado do Asa Branco, por
exemplo, nas zonas dos contentores, alguns retalhistas disseram que com a
subida do saco do cimento, produto indispensável à construção civil, as vendas
diminuíram notavelmente nos últimos dias.
Domingos Oliveira, cidadão com
que o Novo Jornal conversou naquele mercado, disse que pretendia dar início à
construção da sua casa, mas ficou estupefacto com a subida dos preços.
"Não sabia que o cimento da
Cimangola, feito no País, está assim tão caro! Confesso que estou
estupefacto", desabafou.
Mariano António, comerciante que
se juntou à conversa, disse que há tendência do preço subir ainda mais.
"Dizem que o preço vai subir
ainda mais até Dezembro. Há revendedores que estão a armazenar já os produtos
por precaução", contou este comerciante.
Conforme os retalhistas com quem
o Novo Jornal conversou, há dois meses que os preços deste produto têm vindo a
estar irregulares nas cimenteiras.
"Por vez encontramos o preço
a 4.300 ou 4.500, com o aluguer dos transportes e dos armazéns, não está a
compensar", descreveu um deles, assegurando que há pouca procura agora.
Entretanto, durante a ronda, o
Novo Jornal constatou que para além da subida galopante do saco de cimento,
outros materiais de construção também mudaram de preço e estão mais caros,
agora, como as folhas de chapas, ferros e os mosaicos.
Recentemente, Massada António
Kulembala, presidente do conselho de administração do Grupo Mandinga, ligado ao
ramo da construção civil, denunciou à Rádio Nacional de Angola (RNA), num
debate, que a produção do cimento para os próximos seis meses já estava vendida
pelas cimenteiras e assegurou que as empresas de construção civil encontram
dificuldade na aquisição do produto.
"Infelizmente a produção de
seis meses já está comprada. Há um monopólio nas cimenteiras, mas se tirarem
esse monopólio, o cimento vai baixar em Angola", explicou.
Entretanto, o director geral
adjunto do Instituto Regulador da Construção e Obras Públicas (IRCOP), órgão do
Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação (MINOPUH), João Carlos
Pereira, disse no mesmo debate na RNA que existem obras do Governo que tiveram
de paralisar devido à subida dos preços dos materiais de construção.
"Nós, como MINOPUH, sofremos
com essas consequências, essa subida de preço está a fazer com que algumas das
obras do Estado fiquem paralisadas", disse este responsável declarando que
as obras do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) são as que
mais têm sido afectadas.
Ainda no mesmo debate, o chefe do
departamento de comércio interno do MINOPUH, Carlos Amado, defendeu a mudança
do paradigma para os preços vigiados, relativamente aos materiais de
construção.
"Os materiais de construção
são bens fundamentais a vida do País, não só para a população, mas também para
o Estado, que tem investimentos públicos. Temos de mudar o paradigma e tirar o
preço do regime em que está e mudar para o regime vigiado ou controlado",
concluiu.
Sobre o assunto, o Novo Jornal
tentou entrar em contacto com uma das cimenteiras em Luanda, neste caso a
Cimangola, mas sem sucesso.