Malanje - A visita do Presidente
da República à província de Malanje, que começou esta quarta-feira, 06, e
termina na quinta-feira, 07, suscita interogações por parte de políticos e
cidadãos locais, recordando que é a quinta vez desde que foi eleito que visita
a cidade e a sua região sem que os problemas mais urgentes tenham sido
resolvidos, como a energia e a água potável.
O chefe do executivo reúne na
quinta-feira, 07, com os membros do Governo Provincial de Malanje para se
inteirar da situação actual nos diferentes domínios da vida social, económica e
também administrativa da região.
O défice de fornecimento de
energia eléctrica, água potável, escolas a vários níveis por apetrechar,
estradas por construir e recuperar, ravinas em quase todos os bairros, o
deficiente atendimento nas unidades de saúde públicas e a alta dos preços de
todos os produtos de consumo, inclusive os da cesta básica, apoquentam os
malanjinos.
Adriana Dala, reside num bairro
da cidade, a sua expectativa "é que o Presidente veja mesmo como estão as
condições na província de Malanje, (...) visite algumas escolas, veja os preços
nos mercados [da comida]".
Segundo ela, há muitas crianças
fora do sistema de ensino, o que ameaça o futuro das próximas gerações.
"As expectativas são que se
resolvam as necessidades primárias, a alimentação é uma delas. As nossas mamãs
do mercado, às vezes não vendem nada já que o saco de arroz custa 20 mil
kwanzas, como vai comprar para alimentar a sua família?", referiu Berta
Pedro
A nossa interlocutora lembrou que
"as estradas estão muito mal, a água é escassa, a energia também".
Sociedade civil e oposição
reclamam
O activista social, Jesse
Lourenço, admitiu que a visita do chefe de Estado não traz novidades para a
população local: "É a quarta visita que o Presidente da República faz a
Malanje, enquanto titular do poder executivo e Presidente do MPLA, e até ao
momento nada mudou".
O activista esperava que estas
visitas sistemáticas pressionariam mudanças no domínio social, mas "as
condições alimentares, o preço exorbitante da cesta básica não condiz com a
realidade económica dos populares, o PR deveria se apressar a encontrar
respostas".
O secretário provincial do PRS,
Balduíno Daniel, espera por mais benefícios para a região da presença pela
segunda vez este ano de João Lourenço, "começando pelos projectos que não
se terminam, já que Malanje vive um colapso de infra-estruturas paralisadas e
meninos fora do sistema de ensino".
O político acredita que a
primeira fase do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) está por
concluir, o de Água Para Todos está estagnado e as vias de acesso aos
municípios do interior continuam com dificuldades.
"Esperemos que o senhor
Presidente aborde esta questão no encontro que terá, e só assim vamos sentir
que os nossos projectos vão alavancar", apontou.
O coordenador local do Pra-Já-SA,
Carlos Lucas, disse que "o excesso de partidarização do Estado e da
província de forma particular, torna os agentes da Administração do Estado em
individualidades extremamente incompetentes", porquanto os administradores
municipais nomeados têm em perspectiva "agradar" ao partido ao
contrário de proporcionar o bem comum que é a razão da sua indicação.
Carlos Xavier, igualmente
deputado pelo círculo provincial pela UNITA, insinuou que nas deslocações aos
municípios o "administrador foge do contacto porque, simplesmente
percebe-se que esta pessoa não está preparada para tal" e pede que se
"mude o quadro mental".
O político é de opinião que a
província de Malanje está mal, feia, com uma governação ilusória. "Água
(...) é capim, porque é que não há capacidade de distribuir água às
pessoas?", questionou, exemplificando a falta desta no bairro Vila
Matilde.
O segundo o secretário do Comité
Provincial do MPLA, Manuel Carvalho da Costa, numa recente deslocação ao
município de Cahombo, afirmou que o actual momento social que enfrentam os
angolanos é difícil, mas os cidadãos devem ter confiança e acreditar, e apoiar
o Presidente João Lourenço.
"Dias melhores ao povo
angolano virão de certeza", garantiu o segundo representante do partido
dos camaradas naquela província do País.
O representante de Adalberto da
Costa Júnior em Malanje, Mardanês Calunga, igualmente deputado pelo círculo
provincial, depois de desejar boas-vindas ao chefe do Executivo, assegurou que
muitos problemas de âmbito local sempre foram adiados, com realce às vias de
comunicação.
"A província (...) não está
ligada, há municípios que dificilmente as pessoas circulam. Gostaríamos de ver
[o problema] da estrada de Marimba resolvido, a estrada de Cahombo, a estrada
do Quela e Cunda-Dya-Base, as estradas secundárias também", enumerou, rebuscando
o município de Massango, limítrofe de Angola com a República Democrática do
Congo, e indicou a estrada em direcção à comuna do Kinguengue e Kihuhu.
"A passagem está entre 7 mil
a 10 mil kwanzas, um camponês onde vai encontrar o dinheiro?", interrogou,
sugerindo que a questão da via de acesso é prioritária para toda a região de
Ngola Kiluanje e Nginga Mbande, "isso dá outra perspectiva em termos de
investimentos, de atracção de investimentos".
O parlamentar solicitou do
Presidente João Lourenço aceleração dos projectos ligados ao sector eléctrico,
com o "trunfo" de ser produtora a nível nacional com os
aproveitamentos hidroeléctricos de Capanda e Laúca, mas "o povo não
consome este produto. Aqui mesmo na zona 7 do Bairro Maxinde não tem
energia".
Todos os dias há quedas no
fornecimento de energia e a ENDE demora vários dias para solucionar com perdas
enormes para os clientes, sem que os valores sejam ressarcidos ou os produtos
perecíveis que se deterioraram, aludiu o representante do povo na casa das
leis, enumerando que parte dos municípios de Malanje, Cacuso, Calandula e
Cangandala dos 14 ao únicos que beneficiam da energia eléctrica da rede
pública.
Agenda presidencial
Nesta quinta-feira, 07, a seguir
a reunião com os membros do Governo Provincial de Malanje, o Presidente da
República vai visitar uma exposição onde o Governo, as administrações
municipais, empresários, instituições públicas e privadas e alguns produtores
locais mostram o potencial nos mais diferentes sectores (agricultura, indústria,
pecuária, prestação de serviços, restauração), antes de embarcar no aeroporto
local de regresso à Luanda.