A UNITA diz que escavações de supostas valas
comuns na Jamba, antigo quartel-general do partido no Cuando Cubango, visam
distrair os cidadãos sobre o processo de destituição do Presidente João
Lourenço.
Desde o início de agosto, uma
equipa liderada pelo diretor do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado
(SINSE) de Angola, Fernando Garcia Miala, está à procura de valas comuns na
Jamba, no Cuando Cubango e também no Cuemba, província do Bié, onde terão sido
enterrados membros da União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA), alegadamente mortos a mando de Jonas Savimbi.
A Comissão para a Implementação
do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos
(CIVICOP) diz ter encontrado quatro covas no município do Cuemba, no Bié, com
ossadas de Ana Savimbi, primeira-dama do fundador da UNITA, e dos generais Bock,
Perestelo, Tarzan e Antero.
O objetivo final é garantir um
funeral condigno aos angolanos mortos durante a guerra no país, disse à
Televisão Pública de Angola o porta-voz da CIVICOP, Israel Nambi.
"Esse trabalho é
consequência dos trabalhos já feitos em Luanda, que resultaram na entrega de
restos mortais dos oficiais da UNITA que faleceram em 1992, e também como consequência
dos trabalhos que deram lugar à entrega dos restos mortais das vítimas do 27 de
maio. Agora os trabalhos desdobram-se para a região da Jamba e aqui também na
localidade do Cuemba, onde já foi possível obtermos restos mortais em que os
exames forenses vão identificar de quem se trata", explicou.
O local onde foram encontradas as
supostas vítimas de Savimbi será transformado em monumento,"Poderemos
também nesta altura convidar os familiares para virem aqui conhecer o local, e
futuramente podermos colocar aqui um marco histórico, uma vez que o grande
propósito desta iniciativa é a pacificação dos espíritos, o perdão e a reconciliação
nacional", acrescentou.
Entretanto, as partes dos corpos
encontrados serão transportados para o Laboratório de Criminalística de Luanda
para os testes de DNA.
UNITA duvida da credibilidade dos
resultados
"Abraçar e perdoar" é o
lema da CIVICOP, órgão que está a trabalhar para a localização e entrega dos
restos mortais de pessoas mortas durante o conflito político de 1975 a 2002 em
Angola.
Integram a comissão várias
organizações, inclusive representantes do maior partido na oposição.
A UNITA diz que os seus membros
não foram informados sobre os trabalhos das escavações nas zonas que controlava
durante o período de guerra.
O líder do "Galo
Negro", Adalberto Costa Júnior, critica a procura de ossadas das supostas
vítimas do fundador da UNITA, publicitada em cadeia nacional. E diz que o ato
visa "abafar" o processo de destituição de destituição do Presidente
angolano, João Lourenço.
"Um chefe do serviço de
inteligência que não andou a mostrar às câmaras as valas comuns aqui em Luanda,
vejam a velocidade com que ele foi à procura de valas comuns na Jamba. Isso é
bonito? Aqui [em Luanda] não há valas comuns não é? Aqui não se matou ninguém?
Aqui não se mataram angolanos? Aqui no 27 de maio foram só palmas, festas e
flores não é?", questionou.
Adalberto Costa Júnior afirma que
o partido que dirige não "foge das suas responsabilidades
históricas". E é por essa razão que a UNITA tem dirigentes na CIVICOP.
Costa Júnior dúvida da
credibilidade dos resultados que estão a ser apresentados pela equipa liderada
pelo general Fernando Miala.
"Vimos uma delegação a
partir sem ninguém acompanhar. Foram sozinhos. Tem credibilidade aquilo que nos
vão anunciar? É uma pouca vergonha. Incompetentes. Vimos múltiplas guerras
neste país. O angolano sofreu muito. Que atire a primeira pedra quem pensa que
está imune de responsabilidades nestas guerras e nestas mortes", criticou.
A Fundação 27 de Maio recusou
fazer parte desta "caça às ossadas", porque até agora não há
explicações sobre a entrega dos restos de outros individualidades mortas em
1977.
Em declarações à DW África, o
presidente da Fundação, general Silva Mateus, diz que o MPLA ainda não devolveu
os restos mortais dos músicos David Zé Urbano de Castro e Artur Nunes.
"Não iríamos na Jamba à
procura de restos mortais de dirigentes da UNITA mortos pelo Savimbi, quando o
próprio MPLA e o seu Governo ainda não nos entregou as ossadas dos nossos
mortos aqui do 27 de maio. O que mais preocupa, é que o Presidente da República
quando pediu perdão pelos acontecimentos do 27 de maio, citou nomes de
individualidades cujos restos mortais não foram entregues, três anos
passados", lamentou.